"E agora José?"
Quem já não ouviu ou não usou a expressão do poeta mineiro? É lembrada facilmente nas situações confusas e complicadas da vida. Revela a perplexidade ou a angústia perante os "nós" ou dúvidas existenciais!
O José da Bíblia passou por isso antes do poeta. Um dia a "luz apagou" na vida deste José. A gravidez de Maria, sua noiva, lhe é inexplicável. Fica abismado, mas está cônscio da presença de Deus nela e tem certeza de sua honestidade. Não a quer difamar. Resolve ir para longe, correndo o risco de ser ele o difamado.
José não diz palavra.
E quando o anjo lhe esclarece a situação, simplesmente a leva para casa como esposa. Maria dá a luz o filho que ele não gerou, mas é ele quem lhe dá o nome.
É imperioso considerar a obediência de São José à vontade de Deus como inseparável da obediência ao Senhor, o jovem casal vivia um amor inimaginável e acima de todos os sentimentos comuns.
O Papa João Paulo II escreveu: "José, obediente ao Espírito, encontra precisamente nele a fonte do amor, do seu amor esponsal de homem. E este amor foi maior do que aquele 'homem justo' poderia esperar segundo a medida do seu próprio coração" (15.8.1989).
Biografia ele, José, não teve. Não foi poeta. Não se sabe com certeza histórica onde e quando nasceu, nem onde e quando morreu. No entanto, no mundo inteiro e em todos os séculos e culturas, o seu é um dos nomes mais comuns em todas as línguas. Isto porque a figura e a missão de São José na vida e no mistério de Cristo são marcadas por sua obediência pronta e total ao querer divino.
Ele cooperou com o mistério da Encarnação desde o matrimônio com Maria. Ela foi instrumento direto e físico gerado de sua carne o Verbo. José foi instrumento indireto e moral, por consentir num casamento virginal e por integrar a Sagrada Família.
Criou a indispensável condição para manter, visibilizar e proteger a dignidade da gravidez da esposa e a educação do Jesus menino e adolescente no meio social. Torna-se mesmo impossível fazer uma reflexão teológica sobre a Encarnação do Verbo de Deus, excluíndo a pessoa do pai nutrício de Jesus.
É-nos difícil imaginar como Maria e José puderam passar e suportar todas as provações decorrentes da compreensão do mistério do Salvador. Por exemplo: o nascimento em Belém, a fuga para o Egíto, a perda no Templo, a rejeição e o ódio das autoridades, a própria incompreensão dos discípulos.
Tudo lembrava a "espada de dor cortando o coração", profetizada por Simeão na apresentação do recém-nascido Jesus no Templo. Osdois sempre unidos na obediência a Deus: Maria, a virgem do "faça-se a sua vontade", e José, o justo por obediência. Ela e ele viveram a perfeição dessa virtude. Sem dúvida ensinaram Jesus a obedecer na vida em Nazaré, e aprenderam dele a mesma coisa: "Não sabeis que devo me ocupar das coisas do Pai?" (Lc 2,40).
Texto originalmente publicado na revista de Aparecida - Campanha dos devotos.
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