(Mt 22, 39; cf. Rm 13, 8-10)
Amar o próximo “como eu me amo” é realmente o primeiro passo na escola do Amor. Por outro lado, “amar a si mesmo” não é nada fácil, como nos ajudou a compreender Pe. Antonello.
Amar-se de verdade é um caminho e um desafio contínuo em nossa vida, uma profunda exigência de vida: “Faze isso e viverás!” (cf. Lc 10,28) diz Jesus ao legista no começo da parábola do Bom Samaritano. Um certo psicólogo, Marxwell Maltz, diz que o amor a si mesmo é uma das normas mais higiênicas e essenciais da saúde psicológica e do equilíbrio emocional, pois o homem age segundo a imagem que tem de si.
Para nós cristãos, porém, o amor a nós mesmos não é só isso, nem é algo regido por nosso arbítrio, é um mandamento! Quem não ama a si mesmo não reconhece o Amor que Deus tem por ele e se coloca numa atitude de revolta contra Deus. Não amar-se, não aceitar-se é como dizer que Ele errou ao nos criar assim como somos, é não reconhecer e não acolher Seu Amor por nós; é como por uma trava no amor para com Deus e com o próximo, pois é a experiência do amor de Deus que nos habita, que nos impulsiona a amar o próximo.
“Amados, se Deus assim nos amou, devemos nós também amarmos uns aos outros” (1 Jo 4, 11).
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo.”
Às vezes, uma errada interpretação da palavra “Amor” nos leva a pensar que o amor a si mesmo seja egoísmo e, por isso, pecado. De fato, o “amor” é um dos termos mais equivocados, pois o inimigo procura de toda forma deturpar, profanar o amor para agredir Deus pois, “Deus é Amor” (1 Jo 4, 8b).
O Pe. Paulo Ricardo, em seu livro “Um olhar que cura”1 (de quem aconselhamos a leitura) diz que o amor por si mesmo (amor próprio) é, primeiramente, positivo e trata-se de uma “virtude” – se Deus nos amou e somos seus filhos, filhos amados, somos bons! E mesmo que pecamos, que estejamos doentes, Ele não nos abandona, pois enviou seu Filho Unigênito que morreu para nos salvar. Somo preciosos para Deus! Valemos o seu sangue! Como diz S. Pedro, não fomos resgatados por ouro ou prata, mas pelo seu sangue precioso (cf. Pd. 1, 18-19) e, feitos à imagem de Deus somos “santos” porque Ele é santo (cf. 1 Pd 1,15).
Mesmo quando pecamos, “a parábola do Filho Pródigo revela um Pai que valoriza mais a pessoa que erra do que os erros que ela comete [...] que não abandona quem dele Dele desiste” 2. Augusto Cury, um dos autores mais lidos de nosso tempo e caríssimo amigo nosso, freqüentemente repete que Deus tem um romance de amor com cada homem único e irrepetível no céu da existência e que por isso precisamos ter “um caso de amor conosco mesmos” 3. Muitas vezes somos carrascos de nós mesmos e, por isso, duros, tristes, irritados com os outros.
Precisamos compreender-nos a nós mesmos, acolher-nos nos nossos dons e limites “abraçarmo-nos mais” como um projeto maravilhoso do Pai que nos chama a descobrir nossa essência, nossa missão mais profunda, que nos chama a um êxodo contínuo de tudo que nos rouba de nós mesmos, de tudo que nos impede de “sermos Amor”. Precisamos compreender que nossa vida é uma viagem, um contínuo recomeçar, um colocarmo-nos apaixonadamente em caminho, sem desanimar nas quedas, reconhecendo nossos limites e os limites dos outros, como ocasião de crescimento na humildade, no amor, na purificação necessária para tornarmo-nos o que somos em nossa essência! “Desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou” (1 Jo 3, 2a).
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo.”
Amar a si mesmo inclui, por isso, a luta ao pecado cujo salário é a morte, a desfiguração da nossa beleza mais profunda, a destruição da vida plena de nosso ser. Precisa então fugir do “falso amor de nós mesmos”4 que é a raiz de toda nossa doença espiritual. Trata-se do “amor a si contra si” como acontece com o caminho de todos os vícios. O homem imoral procura na luxúria, na prostituição a própria felicidade enganando-se na busca de um falso “amor de si” que na sua realidade gera destruição do próprio equilíbrio afetivo, dos relacionamentos familiares no adultério, do autocontrole nos seus instintos levando-o à escravidão dos vícios, à perda da vida de graça e da comunhão com Deus e com os irmãos, fechando-o numa angustiante solidão que é antecipação do inferno do eu fechado no eu, incapaz de encontrar o amor que busca e pelo qual foi criado. Expressa muito bem este engano diabólico o Santo Padre Bento XVI falando aos jovens que procuram a própria felicidade onde a felicidade termina de existir.
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo.”
Como viver então esta Palavra?
Buscando tudo o que nos permite crescer no Amor. “Finalmente, irmãos, ocupai-vos com tudo o que
é verdadeiro, nobre, puro, justo, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor, então o Deus da Paz estará convosco!” (Fil 4, 8.9b)
Procuremos “doarmo-nos” o tempo necessário para “saborear” o Amor de Deus que nos alcança através da providência, da vida, das circunstâncias, da natureza. Procuremos contemplar sua Palavra, suas maravilhas, sua presença nos irmãos que encontramos. Procuremos crescer em conhecimento, capacidade, dons, desenterrando os talentos que muitas vezes ficam enterrados em nós, “perdendo tempo” para amar, descansar no amor da família, na alegria das amizades verdadeiras, estreitando novos laços de comunhão, cuidando da harmonia do lar, de um prato bem preparado, sabendo agradecer os tantos dons de Deus, “olhai as aves do céu, os lírios dos campos, não valei vós mais do que eles?” (Mt 6, 25ss).
1 Azevedo Jr, Pe. Paulo Ricardo de. “Um olhar que cura”, p.88 ss. São Paulo: Ed. Canção Nova, 2008
2 Cury, Augusto. “Os segredos do Pai-Nosso: A solidão de Deus”, p.26. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
3 Cury, Augusto...
4 Ibdem 1, p.20
Pe. João Henrique |
Nenhum comentário:
Postar um comentário